Nem tubarões, nem cobras ou leões. Em se tratando de animais mortais, os mosquitos são os mais perigosos do mundo. Eles podem ser pequenos e frágeis, mas sua capacidade de transportar e transmitir doenças causa milhões de mortes anualmente ao redor do mundo. Só a malária provocou 438 mil mortes em 2015, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Seus competidores podem ser grandes, fortes e assustadores, mas não fazem nem um terço de suas vítimas fatais: cobras fazem cerca de 125 mil vítimas por ano no mundo todo, leões fazem 200 vítimas e tubarões apenas 55, de acordo com dados da OMS.
Diversos vírus são transmitidos por mosquitos e outros artrópodes – os chamados “arbovírus”. Os mais conhecidos sãos os Aedes e o Culex. A lista de doenças que podem ser transmitidas é enorme, e vai desde as mais conhecidas, como dengue, zika e chikungunya, até as mais exóticas, como febre do Nilo ocidental e filariose, passando por malária, febre amarela e leishmaniose. Algumas não causam mais do que um mal-estar que se assemelha a gripe comum, mas muitas podem ser fatais.
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Pequenos, mas perigosos
O mosquito Aedes é um dos menores – tem apenas sete milímetros – e um dos mais perigosos. Ele é responsável por transmitir várias doenças, entre elas dengue, zika, chikungunya e febre amarela.
A dengue é a que registra o maior número de casos: uma estimativa recente publicada por Bhatt e colaboradores na revista Nature indica 390 milhões de infecções da doença por ano, dos quais 96 milhões se manifestaram clinicamente. De acordo com a OMS, a dengue é endêmica em mais de 128 países, com cerca de 3,8 milhões de pessoas em risco.
O chikungunya teve mais de 37 mil casos confirmados nas Américas registrados em 2015 pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Já a zika apresentou mais de 91 mil casos prováveis registrados até abril deste ano no boletim epidemiológico do Ministério da Saúde do Brasil. As duas doenças já foram documentadas em mais de 60 países da África, Ásia, Américas e Europa.
Apesar dos números assustadores, na maioria das vezes essas doenças se apresentam de forma leve ou moderada. Porém, alguns casos podem ser graves. Embora a dengue clássica raramente tenha consequências sérias, a dengue hemorrágica pode levar à morte. “Os casos graves da doença são muito raros, e sua taxa de mortalidade é relativamente baixa – aproximadamente 40 óbitos para cada 100.000 casos registrados (0,04%)”, aponta Otávio Clark, CEO e team leader da Evidências – Kantar Health.
Já o principal risco da zika é a infecção de mulheres grávidas, o que pode acarretar microcefalia e outras complicações nos bebês. Além disso, o vírus da zika também está associado à síndrome de Guillain-Barré (doença rara em que o sistema imunológico ataca células dos nervos periféricos, causando fraqueza muscular e perda de sensibilidade).
Este ano a primeira vacina contra dengue começou a ser distribuída na rede privada no Brasil, e o governo está estudando a hipótese de sua distribuição na rede pública. Também se espera para um futuro próximo o desenvolvimento de uma vacina contra a zika.
A febre amarela é uma doença hemorrágica viral aguda endêmica nas zonas tropicais da África e na América Central e do Sul. Desde o lançamento do programa “Iniciativa contra a Febre Amarela”, em 2006, foram realizados progressos significativos no combate a esta doença na África e mais de 105 milhões de pessoas foram vacinadas em campanhas de vacinação em massa, diminuindo significativamente o número de casos. No entanto, um surto recente da doença – considerado o pior em décadas – já matou mais de 345 pessoas em Angola.
De acordo com a OMS, cerca de 130 mil casos de febre amarela são notificados anualmente e a doença causa 44 mil mortes no mundo a casa ano. “Existe uma vacina para a febre amarela que é eficaz, mas não é aplicada a todas as pessoas, apenas para aquelas que vivem em áreas expostas ou que viajarão para locais endêmicos”, explica Clark.
Malária
De todas essas doenças, a malária é a mais perigosa. “A malária é a principal causa parasitária de morbidade e mortalidade em todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento onde há sérios problemas econômicos e sociais”, alerta Clark.
Em 2015, mais de 3,2 bilhão de pessoas estavam em risco, de acordo com dados da OMS. Estimativas da Organização também apontam que houve 214 milhões de novos casos de malária no mundo todo em 2015. A doença, transmitida pelo mosquito Anopheles, é endêmica em 107 países. Se não tratada a tempo, a doença pode se agravar e levar a convulsões, delírio, anemia, insuficiência renal, edema pulmonar, coma e óbito. Não existe vacina para malária, mas o tratamento com agentes antimaláricos geralmente é eficiente e seguro – quando feito rapidamente e de forma correta.
Combate
Combater essas doenças é essencial, mas não é fácil. Isso porque a maioria das áreas endêmicas se encontra em regiões menos favorecidas, que precisam vencer muitos desafios sociais e econômicos para resolver questões de saúde pública. Outra questão importante é o fator ecológico de combater os mosquitos.
“O combate a essas doenças é uma questão difícil, já que o principal problema é a transmissão por mosquitos e os desequilíbrios ecológicos estão fazendo mais e mais pessoas entrarem em contato com eles”, aponta Clark. “A facilidade de viajar também contribui para a rápida disseminação global das doenças – a zika, por exemplo, acredita-se que foi introduzida no Brasil durante a Copa do Mundo de futebol há dois anos e rapidamente se alastrou pelo país e pelo continente. No caso da malária, a resistência do mosquito ao larvicida também é considerada um fator que contribui para o aumento no número de casos”.