Medo, angústia, desespero, solidão: o que leva uma pessoa a desistir de tudo? Quais fatores influenciam? Teria dado tempo se a família soubesse da intenção de quem pôs um fim ao próprio sofrimento? Essas são algumas das questões sobre suicídio que na maioria das vezes, ficam sem respostas.
O último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) realizado em abril de 2016, aponta que mais de 800 mil pessoas se matam todos os anos, ou seja, a cada 40 segundos, uma pessoa tira a própria vida. O suicídio está entre as dez causas de morte mais frequentes no mundo e é a principal entre os jovens de 15 a 29 anos. Além disso, 75% dos suicídios em todo o mundo ocorrem em regiões de baixa renda, e as formas mais comuns de se tirar a própria vida é através da ingestão de medicamentos e pesticidas de uso rural, enforcamento e armas de fogos, sendo essa última mais comum entre os homens – em média, são três casos de suicídio de homens para cada mulher.
Causas
Alguns estudos associam o suicídio a distúrbios mentais, transtornos de personalidade, isolamento e depressão – doença relacionada a 30% dos casos de morte de acordo com a OMS. A esquizofrenia também é responsável por 14% e a ingestão de álcool tende a ser um fator agravante, sendo associado em 18% nos números de mortes. “Indivíduos com distúrbio mental grave (como depressão, abuso de álcool e drogas, esquizofrenia, transtorno bipolar) devem receber especial atenção dos seus familiares. Pacientes com quadro depressivo mais grave com ideação suicida devem ser cuidadosamente acompanhados e, se necessário, encaminhados a um serviço especializado a fim de prevenir a tentativa de suicídio”, afirma Luis Sales, médico analista da Evidências – Kantar Health. Além disso, muitos suicídios são realizados por impulso em pessoas que se encontram em grandes colapsos como crise financeira, amorosa, doença ou situações de perda. Situações de violência ou discriminação racial e sexual também tendem a despertar comportamento suicida.
Para alguns especialistas, existem indícios que podem indicar vulnerabilidade. Segundo o Ministério da Saúde, a maioria das pessoas que cometem o suicídio em algum momento expôs o pensamento sobre o ato. É errado afirmar que eles querem mesmo morrer, sendo comum o arrependimento logo após a tentativa. “Boa parte das pessoas com intenção suicída expressa os seus pensamentos por meio de palavras que remetem a sentimentos de culpa, desesperança, baixa autoestima e problemas morais” declara Sales.
Prevenção
O que pode ser o fim para muitos, no entanto pode ser evitado com apoio e atenção de quem está próximo: para a OMS, nove em cada dez casos poderiam ser prevenidos. Com base nos crescentes números, programas de prevenção ao suicídio foram criados em todo o mundo através da Associação Internacional para Prevenção ao Suicídio (IASP). No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) realizam durante todo o mês o Setembro Amarelo, com atividades em vários estados que estimulam divulgações sobre a causa.
O suicídio é considerado um problema de saúde pública e estima-se que dez a vinte milhões de pessoas tentarão se suicidar nos próximos anos, de acordo com a OMS. Com base nisso, a organização criou o Plano de Ação de Saúde Mental com a meta de reduzir em 10% a taxa de suicídios até 2020. O Ministério da Saúde também possui a cartilha Diretrizes Nacionais de Prevenção, um manual com dados e orientações destinado aos profissionais de saúde para direcionar o atendimento em casos de indícios suicidas.
“A prevenção ao suicídio passa a ser desde o tratamento médico adequado ao problema apresentado pelo indivíduo até o tratamento farmacológico e acompanhamento psicoterápico. Contudo, os suportes social e familiar são fundamentais para a recuperação da pessoa que precisa de ajuda”, pontua Sales.