Por que dormimos? E por que sonhamos? Essas foram duas das 125 perguntas mais intrigantes da ciência publicadas pela revista Science em 2005. E mesmo não sabendo exatamente as respostas para essas questões, variados temas sobre o sono revelam sua importância para a vida do ser humano. “A função do sono não está totalmente esclarecida, mas, atualmente, já existem diversos estudos que nos permitem dizer que o sono possui um papel fundamental na saúde, exercendo uma atividade reparadora com grande influência no funcionamento de sistemas como o nervoso, cardíaco e endócrino, entre outros”, analisa Renato Watanabe, analista de Pesquisa Clínica da Evidências – Kantar Health.
“Por exemplo, podemos citar a liberação do hormônio GH – o hormônio do crescimento – que ocorre durante as primeiras horas do sono, o período do sono mais ‘profundo’. Além disso, estudos já observaram que a privação e restrição do sono podem aumentar os níveis de cortisol e ACTH – hormônios relacionados ao estresse, e também podem provocar prejuízos cognitivos, aumentar a ingestão de alimentos pela redução de leptina (hormônio que promove saciedade) e aumento de grelina (hormônio aumenta a fome), além de aumentar a irritabilidade e alterar a resposta imune, entre outros. Estas alterações diretas, e outras indiretas, prejudicam a saúde do indivíduo”.
No ranking de quem dorme menos, o Brasil está em terceiro lugar no mundo, perdendo apenas para o Japão e Cingapura, de acordo com uma pesquisa realizada pela revista Science Advances em 2016. Em média, os brasileiros dormem 7 h e 30 minutos por noite. Para Guilherme Julian, especialista de Pesquisa Clínica da Evidências – Kantar Health, a quantidade de horas necessárias de sono por dia para se sentir bem varia de pessoa para pessoa. “Algumas necessitam menos de seis horas e são classificadas como ‘dormidores curtos’; há pessoas que necessitam de mais de nove horas de sono e são classificadas como ‘dormidores longos’. Além disso, a necessidade de horas de sono varia com a idade, sendo muito maior na infância – recém-nascidos, por exemplo, necessitam de 16 horas de sono por dia – diminuindo ao longo do tempo, até atingir de 7 a 8 horas por dia, em média, na idade adulta”.
Dia do Sono
No próximo dia 17 de março é comemorado o Dia Mundial do Sono, data criada pela Sociedade Mundial do Sono (WSS) com o objetivo de conscientizar sobre a importância de se dormir bem e sobre os distúrbios do sono. A campanha desse ano tem como tema o slogan sleep soundly, nurture life (dormir bem, fortalecer a vida), com o foco de incentivar as pessoas a procurarem ajuda profissional quando necessário.
Existem cerca de 70 tipos de distúrbios de sono. Os mais comuns são a insônia e a apneia do sono. Na insônia, a pessoa não consegue dormir em seu período de descanso, o que pode ser relacionada a outras causas como ansiedade e depressão. Já na apneia do sono a pessoa tem interrupções intermitentes da respiração durante o sono, diminuindo a oxigenação dos tecidos. “Existe uma grande dificuldade de se identificar a apneia, pois não é possível perceber essas interrupções durante o sono, já que na maioria das vezes elas não levam ao despertar da pessoa, mas são suficientes para alterar a atividade cerebral durante o sono, prejudicando sua qualidade. Assim, a apneia pode ser identificada pelos parceiros ou através de outros sintomas, como cansaço ao acordar, sonolência durante o dia, dificuldade de concentração, entre outros. Por isso é importante procurar ajuda médica e realizar o exame de polissonografia”, afirma Watanabe.
Como dormir bem?
Mesmo com tantos benefícios relacionados ao sono, dormir bem pode não ser uma tarefa tão fácil. Mas há bons hábitos que, seguidos regularmente, podem ajudar a ter noites de sono bem dormidas, de acordo com Julian. Esses hábitos são chamados de ‘higiene do sono’. “Para manter uma boa higiene do sono, alguns importantes hábitos são: evitar longos cochilos à tarde; evitar agentes estimulantes (chocolate, café, chá, cigarro); evitar a prática de exercícios físicos na parte da noite; evitar luz excessiva à noite, principalmente pouco antes de dormir (isso inclui luzes de TV e smartphones!); a exposição à luz solar é um fator importante, pois o Sol é o sincronizador natural de nosso relógio biológico; utilizar o quarto apenas para dormir, evitando outras atividades, como trabalhar, comer, etc.; evitar o uso de álcool (o álcool é um bom indutor de sono, de fato, mas atrapalha na qualidade geral do sono e na quantidade de sono do tipo REM, importante para manutenção da memória, e outras funções desde o funcionamento do sistema imune até outras funções do sistema nervoso central); para pessoas insones, é importante fazer relaxamento antes de dormir, não recordar os problemas/preocupações na hora de dormir, etc.”.
Ainda há muito que aprender sobre o sono, mas não se pode negar sua importância para o equilíbrio da qualidade de vida e o bom funcionamento do nosso cérebro e corpo. “Na sociedade em que vivemos, onde o tempo e a qualidade do sono estão cada vez mais prejudicados, vale lembrar que o sono é tão importante quanto realizar atividade física ou ter uma alimentação saudável, sendo parte fundamental da boa saúde”, ressalta Watanabe.