No último domingo (9) o Brasil ficou chocado com cenas do Big Brother 17 mostrando agressão psicológica e física do participante Marcos Harter a companheira de programa Emilly Araújo, com quem tinha uma relação. As cenas desencadearam um movimento nas redes sociais e levaram à intervenção da delegacia da mulher e à expulsão do integrante do programa. O episódio tornou-se emblemático, pois trouxe à tona – e em cadeia nacional de televisão – um problema invisível que é enfrentado diariamente por milhares de mulheres ao redor do mundo.
A violência psicológica é a forma mais subjetiva – e, portanto, mais difícil de se identificar – de agressão contra a mulher. Mas isso não significa que ela também não deixa suas marcas: a violência psicológica é também uma grave violação dos direitos humanos das mulheres, que produz reflexos diretos em sua saúde mental e física. Considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a forma mais presente de agressão à mulher, sua naturalização é considerada um estímulo a uma espiral de violências. Prova disso é que três em cada cinco mulheres jovens já sofreram violência em um relacionamento, segundo pesquisa realizada pelo DataPopular e Instituto Avon em 2014.
De acordo com a OMS, a violência psicológica contra as mulheres é “qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação”.
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Dados da violência
A violência contra a mulher pode ser física, sexual, moral e psicológica. De acordo com as denúncias de violências recebidas (12,23% do total de atendimentos) no primeiro semestre de 2016 pelo Ligue 180 – a Central de Atendimento à Mulher – os números são estarrecedores: 51,06% corresponderam à violência física; 31,10% à violência psicológica; 6,51%, violência moral; 4,86%, cárcere privado; 4,30%, violência sexual; 1,93% à violência patrimonial e 0,24%, ao tráfico de pessoas. Porém, esses números podem ser ainda maiores tendo em vista que apenas 10% dessas agressões são registradas pelas vítimas, que deixam de denunciar por fatores como medo ou sentimento de culpa.
Culpa
Não apenas a naturalização de atos violentos dentro de casa ou em relacionamentos abusivos, a violência psicológica implica na culpabilidade, situação comum em que a vítima até gostaria de se livrar das agressões, mas não do agressor que estimula a imagem de que a vítima foi responsável pela agressão.
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Apesar de não serem precisos, estes dados de diversos tipos de violência contra a mulher servem de exemplo para uma realidade mais comum do que parece, mostrada até ao vivo em um programa de TV e que mesmo em meio às controvérsias, é considerada banal por muitos brasileiros.